A NORMA DE DESEMPENHO, MOMENTO ATUAL E PROVÁVEL FUTURO
O assunto norma de desempenho, sempre desperta a atenção entre incorporadores, construtores e cliente final, pois a mesma descreve os parâmetros de desempenho dos diversos sistemas da construção, e como os mesmos devem ser mensurados.
Pois bem, após ter participado de uma centena de reuniões, diversos grupos, no antes, durante, revisão, consulta nacional, pós publicação, e nos dia atuais, ou seja mais de 3 anos de sua publicação, o tema ainda desperta em alguns a dúvida “será que esta norma vai pegar? ”, eu mesmo já ministrei diversas palestras e tive que responder esta pergunta, assim como a famosa “ como podemos fazer para cancelar esta norma? ”
Bom a resposta sem enrolação, a norma já pegou, já virou realidade e não há como voltar no tempo, respondido isto, o assunto ainda tem o problema de ter gerado muitos “gurus da norma”. Alguns que conheci, nunca vi participar de nenhuma reunião, nenhuma discussão setorial e ou trabalho em conjunto do mercado, sobre o tema, mas que baseado em tabelas, check lists, e leitura das centena de artigos, as vezes tenho a percepção que nunca leram a norma propriamente dita, e falam como papagaios, ou seja falam frases feitas e de impacto, mas não respondem aos que muitas vezes pagaram para assistir palestras, na busca de um rumo e recomendações que necessitam fazer em suas incorporadoras ou construtoras.
Vou dar meu primeiro credito a um artigo do professor Ercio Thomas, que escreveu como seu pai, a muitos anos atrás conseguiu construir uma casa e atender os parâmetros da norma, nosso amigo do IPT sim participou, propôs e argumentou sobre o tema e caso nunca leram este artigo, recomendo. Pois está muito alinhado com o modo correto de pensar, pois descreve que a engenharia esqueceu de pensar o resultado final e por muitos anos desenvolveu sistemas que podem ter trazido resultados excelentes para um sistema, mas com um grande prejuízo aos demais.
Para esclarecer o que digo, basta entrar em um apartamento construído em 1970 e comparar o desempenho acústico a muitos construído nos últimos anos, todos nós sabemos o que houve, e, portanto, em prol de um sistema outros foram prejudicados.
O meu segundo crédito, vou deixar ao CTE e a CBIC que realizaram uma pesquisa setorial sobre a norma trazendo um panorama atual e desafios futuros, o qual também é de domínio público, e que comprova com metodologia cientifica aquilo que tenho na mente a muito tempo.
A RSO ASSESSORIA, na época representava os interesses dos incorporadores e construtores, e representando o Secovi-SP, contribuiu na elaboração das muitas partes, participou de centenas de discussões, encaminhou dezenas de contribuições que foram acatas na consulta nacional e foi com certeza um grande aprendizado, apesar de já termos participado de uma centena de comissões ABNT antes desta norma. Além de coordenar tecnicamente alguns dos principais manuais do setor a respeito de entrega de empreendimento, e ministrar palestras sobre os temas.
Mantemos relacionamento com diversas construtoras, e contribuímos em algumas das soluções de engenharia, onde me atrevo a dizer algumas até bem simples e baratas frente aos problemas que o mercado se descabela para resolver. Mas em nossa percepção o momento que vivemos tem sua parte de culpa, pois nos últimos anos, dezenas de amigos com larga experiência de engenharia, foram dispensados das construtoras em prol da diminuição de custos, e no lugar deles muitos outros foram contratados, mas que não possuíam nem viveram o momento da criação destas regras do mercado, isto fez com que houvesse um retrocesso, e a dita “economia” da demissão se tornou um enorme prejuízo as empresas, pois hoje muitos destes contratados, assistem palestras de 50 minutos ou compram a norma da sexta feira com a intensão de implementar na segunda.
Deixo claro e esclareço, não vai dar certo, a implementação desta norma necessita de um departamento com autonomia para alterar os processos de uma empresa inteira, pois a norma interfere no planejamento, alteração na contratação de projetistas, materiais, sistemas, compra de insumos, recebimento e insumos, entrega do empreendimento e pós entrega, ou seja, o processo todo, do sonho de construir a gestão do pós entrega.
A RSO ASSESSORIA também tem sofrido o efeito “economia das empresas”, onde é notório quando perdemos uma concorrência para assessoria a construtoras e incorporadoras, nos diversos trabalhos de desenvolvemos, mas vou focar um exemplo na elaboração de manuais de entrega de empreendimento, o mesmo passou por enorme mudança decorrência de alteração de outras normas muito próximas a norma de desempenho, onde sempre ouvimos nos eventos que o preço não é premissa na contratação, mas que no momento da análise das propostas , percebemos concorrência a valores na faixa dos 30% daquilo que éra praticado no mercado, e que temos que nos adaptar, e ai mais uma vez entramos no círculo vicioso de termos que demitir para nos adaptar, mas não fizemos isto, pois sabemos o valor do recurso humano e não podemos perder este aprendizado. Este mês inclusive fomos contratados para reescrever um manual das áreas comuns e do proprietário de um concorrente que havia ganho uma concorrência, pois o documento entregue estava com a norma desatualizada, e não atendia as novas premissas, mas que o cliente não se atentou no momento da contratação.
Sobre o futuro, poderia falar que pertence ao Grande Arquiteto do Universo, que sabe e conhece e trata o mundo com muito desempenho, mas tecnicamente falando corremos o risco de grandes discussões jurídicas, entre o usuário final, o qual possui uma metodologia clara de o que e como medir o desempenho, e das empresas que acreditaram que iriam aprender tudo sobre a norma em 50 minutos de apresentação, ou lendo uma norma gigante no final de semana, e talvez se arrependam de ter desmontado seus departamentos de engenharia, para contratar um engenheiro ou arquiteto, mais novo a um custo menor.
Ronaldo Sá Oliveira
Membro das comissões que elaboraram centenas de normas ABNT, inclusive a norma de desempenho, de elaboração de manuais de empreendimento, gestão das manutenções, das reformas, e da comissão de inspeção predial.