A Ignorância é uma dadiva


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A Ignorância é uma dadiva


As vezes penso como seria a construção no Brasil sem as normas ABNT, pois bem este final de ano, em uma vigem que fiz onde me hospedei em uma conceituada e cara pousada em uma ilha turística aqui em São Paulo (ilha bela) tive uma leve ideia de como seriam as construções e o resultado me espantou.

Muitos acham que as normas não são obrigatórias e que os documentos servem para “encher o saco” do progresso, pois bem na visão de um cliente que conhece um pouco das normas, ou seja das condições mínimas exigíveis para conforto, segurança e todos os itens que as normas implicam na construção, me espantou viver um período excluídos das mesmas.


Desde a fundação da pousada, que parecia uma situação planejada por um “pedreiro leigo”, o que levou e enormes trincas na edificação, passando pela implantação da pousada, que criou um estacionamento com uma rampa, a qual o veículo (um carro novo motor 2.0) sofreu para conseguir subir e manobrar, sem dizer o coeficiente de atrito da mesma que dava uma sensação de acidente constante. Mas a vista era linda como descrevia o site da mesma.


Após passar pela recepção, era notória a importância das normas de arquiteturas, definições e dimensões de escadaria, corrimões, as quais não passavam características de segurança, ou conforto. Tendo um olhar mais detalhada, percebi que as normas de segurança não eram seguidas também, pois não haviam extintores suficientes para uma pousada em 4 andares e rotas de fuga nem em sonho, mas já havia feito a reserva e a família, por desconhecer as normas estava feliz, resolvi ficar.


Passados os sustos iniciais fomos a piscina, a qual possuía uma linda vista geral da ilha, mas que observando com um pouco mais de atenção, o “projetista” havia criado um espaço para crianças com 90 centímetros de água, mais uma norma descumprida, e que criou um “canto vivo” dentro da água, além da parte mais funda possuir quase 1,60 de profundidade, ou seja uma criança que não soubesse nadar, não teria segurança se saísse de sua área e um adulto poderia sofrer um enorme acidente se em um mergulho, batesse no canto, lembrei que tudo isto está bem definido em normas da ABNT, as quais acompanho e agora mais do que nunca sei que deve estar documentado, pois o bom senso não existe, e se faz necessários as exigências. Saídas com corrimão nem em sonho existiam tive que rir, para não chorar


Após me recrear na piscina, nada mais normal que um banho, o qual possuía aquecimento a gás, mas que os aquecedores eram todos externos, com tubulações com partes em espaços confinados, e presença de oxidação por toda parte, ou seja também não seguiram nenhuma norma de projeto, instalação e manutenção.


Sobre a instalação elétrica, nem foi surpresa, ao perceber fios e instalações que não seguiam as normas existentes, assim como o coeficiente de atrito em todos os pisos e mais uma dezena de sistemas existente, alem da propria norma de turismo da ABNT que diga de passagem é gratuita para acesso.


Neste momento já estava me divertindo vendo as condições que os edifícios seriam construídos caso não houvesse normas, leis e fiscalização no Brasil.


A ignorância é uma dadiva realmente, pois observava todos se divertindo e aproveitando, e eu observando as condições de riscos e lembrando da centena de comissões que participei e da importância de escrever com clareza as regras, daquilo que parece mais obvio possível, pois caso o mesmo não esteja descrito poderá ser interpretado como não necessário. Não há como escrever sobre bom senso, infelizmente pois se fosse, cerca de 80% das normas existentes não precisavam descrever o obvio.


Em palestras que faço pelo Brasil, sempre falo da quantidade de normas que impactam o setor, e sempre as plateias fazem caras de absurdo e abuso, pois bem deixo o desafio de pensar, como seriam as construções, se as normas não existissem. E como quem não as conhecem acreditam que não são necessárias, mas com certeza iriam reclamar muito mais caso os edifícios fossem construídos a bela vontade e planejamento dos curiosos de plantão.